O de sempre?

Apesar de querer muito ser blogueira famosa que ganha recebidinhos toda semana, eu tenho um grande medo: o de ser conhecida por pessoas que não conheço.

Explico.

Eu não quero ser a pessoa que vai sempre no mesmo café, pede sempre a mesma coisa e a pessoa fala “O de sempre?” e você responde “Sim”.

Eu tenho pavor de me tornar alguém que, por coincidência, pega sempre o mesmo motorista de táxi. “Ahh você mora ali na Diógenes, né?”. “Isso, moço”.

Esse medo vem de uma incapacidade paralisante de cumprimentar pessoas na rua. Não é nem que eu não consiga manter aquele papo superficial de quem se encontra sempre no elevador e em nenhum outro lugar. Isso eu consigo fazer. O problema é encontrar uma dessas pessoas para quem eu sou “conhecida” fora do contexto.

Se eu vejo a moça do café de sempre na rua eu dou um oi? Um sorrisinho? Se o taxista me vê assim de frente, sem ser pelo espelho retrovisor, eu paro ele e falo “Oi! Tô indo pra Diógenes! hahaha”?

E serão eles capazes de me reconhecer no contexto diferente? Se eu não estou pedindo um capuccino com canela ou falando “não pega a Heitor, por favor”, quem sou eu?

Ou seja, todo um problema existencial. Uma reflexão sobre o nosso papel na sociedade e a capacidade fisionomista dos outros (porque eu não tenho essa capacidade).

Mas meu maior medo se concretizou. Sempre passo no mesmo café a caminho do trabalho. Sou conhecida como a moça do capuccino com canela. E agora eu não posso nunca fazer qualquer outro pedido que não esse.